Dentro de Auschwitz: lembranças assombradas do campo de morte nazista

Se emoções humanas pudessem habitar nas paredes de um lugar, então Auschwitz-Birkenau estaria impregnado de medo e tristeza. O local onde funcionava o campo nazista, na Polônia, está tranquilo agora. Nele, hoje, só ecoam os sussurros e os  suspiros de descrença dos visitantes. Ainda assim, é impossível olhar para as salas vazias ou para os objetos deixados por seus antigos moradores sem ouvir os sons de terror e angústia reverberando em torno de nossas cabeças.

Estas fotografias de Tomasz Stefanko oferecem um vislumbre do estado atual desse campo de concentração, onde reinavam o pesadelo e a morte – hoje deserto e silencioso. Sentimentos de horror indescritível e tristeza incomensurável são desencadeados por essas imagens que retratam desde os sinistros edifícios até aos pequenos, íntimos e às vezes muito banais objetos deixados por aqueles que sofreram e morreram dentro desse inferno.

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Esses uniformes pendurados em um varal nos convidam a imaginar o sofrimento dos homens, mulheres e crianças que não tinham mais nada, a não ser esses panos finos para protegê-los contra os rigorosos invernos poloneses. Depois do 'registro', os prisioneiros eram tatuados, despidos e barbeados, enquanto que suas roupas eram desinfetadas com Zyklon B. Os que escapassem de serem levados diretamente para as câmaras de gás, eram obrigados a trabalhos forçados.

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No letreiro acima da entrada de Auschwitz lê-se: "Arbeit Macht Frei", ou "O Trabalho Liberta'. A mesma mensagem estava escrita sobre os portões de Dachau, um outro campo de concentração na Alemanha. Homens e mulheres foram obrigados a labutar em condições terríveis. Seus captores, por outro lado, tiveram grandes retornos financeiros: Auschwitz gerou um lucro aos nazistas equivalente a 200 milhões de dólares atuais.

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Olhando para Auschwitz hoje, o projeto cru e funcional dos edifícios, nos transmite a tétrica noção da abordagem metódica que os nazistas adotaram para enviar centenas de milhares de prisioneiros à morte, método sinistramente aprimorado com o passar do tempo. Projetados com eficiência impiedosa, as câmaras de gás e os crematórios dão testemunho do modo sistemático em que um grande número de pessoas foram assassinadas. Auschwitz, inicialmente, foi projetado para alojar 10 mil prisioneiros de guerra russos. Seis meses depois, apenas 200 desses homens ainda estavam vivos.

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As pilhas de objetos pessoais – que sem dúvida, um dia pertenceram aos presos e a outros executados no campo - são, talvez, as lembranças mais pungentes dos terríveis acontecimentos pelos quais Auschwitz será eternamente lembrado. Artigos pessoais como os óculos da fotografia acima, são tão familiares, tão associados ao ser humano, possivelmente até mais do que restos biológicos como ossos e cabelos, que nos fazem pensar em avós, primos, professores,  tias e tios -pessoas comuns e grandes pensadores, médicos, artistas. Multidões, cujas vidas foram tiradas pela violência metódica dos nazistas.

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Acredita-se agora que pelo menos 1,3 milhões de pessoas morreram em Auschwitz-Birkenau, mas já que não há registros adequados - os nazistas destruíram um grande número deles - o total de vítimas pode facilmente ser maior. Outros estimam que o número de mortos esteja entre 2,1 e 2,5 milhões e algumas fontes estimam que o número pode ser ainda mais elevado, chegando a atingir 4 milhões de pessoas assassinadas pelos seguidores de Hitler.

Nem todos os prisioneiros morreram em câmaras de gás. Fome, doença, exaustão, execuções individuais e a submissão a sinistras experiências médicas, foram alguns dos outros meios pelos quais os prisioneiros pereceram.

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Na fotografia acima, vemos empilhadas as próteses e os aparelhos ortopédicos tirados dos prisioneiros antes de serem assassinados. As muletas eram bastante comuns no início e nos meados do século XX, em parte, devido às epidemias de poliomielite que assolaram a Europa e outras partes do mundo durante aquele tempo. Os prisioneiros em Auschwitz considerados inaptos e incapazes para o trabalho duro – entre eles os coxos - eram separados e levados imediatamente para as câmaras de gás.

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Nenhum conforto era concedido aos prisioneiros. Até mesmo durante as  horas de descanso eles eram amontoados em beliches de madeira como os da fotografia acima. Ás vezes, quatro pessoas se espremiam em um único beliche. As condições eram tão desesperadoras que os presos dormiam com suas roupas e sapatos a fim de evitar que fossem roubados. Eles eram acordados às 4:30 da manhã para começar seus turnos de trabalho de 12 horas.

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Uma boneca, outrora amada por uma menininha, agora é um símbolo de tragédia, assim como os sapatos que a rodeiam. As crianças, as mulheres e os idosos, não tinham muitas chances em Auschwitz-Birkenau. Quase todas foram enviadas diretamente para as câmaras de gás assim que chegaram no campo, outras foram usadas ​​nos infames experimentos realizados por Josef Mengele, o chamado "Anjo da Morte",  e por outros médicos do Terceiro Reich. Em determinado momento, 4.000 crianças cujos pais haviam sido deportados da França chegaram no campo. Cada uma delas foi morta dentro de poucos dias.

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Nada deixava de ser regulamentado nos campos de concentração, até mesmo as funções humanas mais básicas eram registradas. Os presos eram monitorados quando iam ao banheiro, um outro detento verificava quanto tempo eles levavam para urinar e defecar. Esta invasão de privacidade e a maneira como as latrinas eram alinhadas (como ilustrado na foto) deixam claro que aos prisioneiros não foi concedido nem mesmo o menor resquício de dignidade humana.

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Esses sapatos parecem tão pequenos que só podem ter pertencidos a alguém que  aprendera a andar, havia pouco tempo. Se houver qualquer objeto que represente o mal ocorrido em Auschwitz-Birkenau, são esses sapatos de  criança. É quase inconcebível para nós, que alguém possa planejar a morte de  crianças, e em uma escala tão grande, até sermos confrontados com essa gritante prova desse crime bestial.

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No campo de concentração de Auschwitz-Birkenau não havia somente judeus. Outros considerados indesejáveis ​​pelo governo nazista também foram aprisionados lá. Prisioneiros de guerra soviéticos, ciganos, poloneses, testemunhas de Jeová e criminosos eram enviados para Auschwitz para definhar e morrer. Cerca de 300 barracas de madeira foram construídas no pátio do campo, muitas delas feitas de tábuas pré-fabricadas destinadas à construção de estábulos - como mostram os anéis de ferro, onde eram amarradas as rédeas dos cavalos.

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'Untersuchungsraum', informa o letreiro gravado nessa parede, termo que se traduz como "sala de exame". Não havia palavra que causasse um pressentimento mais sinistro, em um campo de concentração como Auschwitz, do que a da fotografia acima. As experiências médicas que foram realizadas em vítimas indefesas nesse lugar de tormentos são notórias pela desumanidade levada ao ápice. A empresa alemã Bayer, então uma subsidiária do conglomerado de indústrias químicas IG Farben, financiou experimentos em pacientes em Auschiwtz para testar novas drogas –ancorada na afirmação inescrupulosa de que tudo era feito em nome da "ciência".

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Aqui, uma teia de aranha cresce no canto de uma sala. O campo de Auschwitz-Birkenau foi construído em uma remota área rural – um lugar onde a paz da natureza parece reinar em um abismal contraste  com os hediondos crimes genocidas perpetuados no campo.

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Essas malas empilhadas, que os deportados para o campo traziam com eles, servem como um símbolo da falsa esperança oferecida aos presos que chegavam a Auschwitz-Birkenau. Os prisioneiros enviados para as câmaras de gás eram mantidos ignorantes de seu destino até o último momento. "Quando vocês terminarem o banho, haverá uma tigela de sopa e café ou chá para todos", foram algumas das palavras vazias ditas aos prisioneiros, momentos antes da execução por gás.

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Várias escovas compõem esta triste coleção de itens de higiene pessoal - e mais uma vez somos lembrados do quanto todas as vítimas de Auschwitz eram semelhantes a nós, nos hábitos, nos pequenos afazeres do dia a dia. O crime delas foi simplesmente terem nascido no povo ou na religião 'errada'. O fato de que seus captores as viam como seres inferiores, ressalta o poder da doutrinação nazista, o quão profundo o ser humano pode mergulhar na insanidade quando passa a seguir homens enlouquecidos pelo ódio e pelo poder.

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Uma divisão especial da Schutzstaffel patrulhava o campo e as cercanias de Auschwitz-Birkenau. Aqueles que conseguiram escapar, geralmente o fizeram quando estavam em frentes de trabalho, fora das cercas de arame farpado – e com a ajuda dos moradores da região. "A população local é fanaticamente polonesa e ... pronta para fazer qualquer coisa contra o campo e contra a guarnição da odiada SS ", escreveu um comandante de Auschwitz. "Cada prisioneiro que consegue escapar, conta com toda a ajuda possível, assim que alcança à primeira fazenda polonesa."

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Essas latas enferrujadas, de aparência inofensiva, foram, na verdade, as mensageiras da morte para a maioria das pessoas assassinadas em Auschwitz. Cheias de cápsulas do mortal gás Zyklon B, as latas eram transportadas para o campo por ambulâncias. Depois, o gás era lançado nas câmaras seladas, que tinham capacidade para acomodar até 1.200 pessoas ao mesmo tempo. A morte podia demorar até 20 minutos. Um relatório médico da SS descreve a agonia dos executados:  "As batidas, os chutes e os gritos de desespero das vítimas podiam ser ouvidos através das paredes…eles lutavam por suas vidas."

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Apesar de valas comuns também terem sido usadas, a maioria das vítimas de Auschwitz-Birkenau era 'descartada' no crematório. Até 10.000 homens, mulheres e crianças foram assassinados e cremados em Auschwitz num único dia. Algumas fontes chegam a afirmar que 20 mil pessoas poderiam ser exterminadas em um período de 24 horas. De abril a julho de 1944, 475 mil judeus húngaros chegaram ao acampamento, o que levou a  milhares de assassinatos não 'programados', cujas vitimas, tiveram os corpos queimados em valas abertas.

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Como o mural de fotografias acima ilustra, as vítimas em Auschwitz  eram pessoas comuns - pessoas que andavam de bicicleta, que faziam piquenique com seus filhos e que posavam para fotografias com os amigos, pessoas iguais a mim e a você. É impossível não ficar impressionado com essa tragédia avassaladora, quando somos confrontados com imagens como essas. Essas fotografias testemunham a crueldade e a violência de que somos capazes de infligir a outros seres humanos. Elas nos servem como alertas para nunca deixarmos nossa consciência a mercê de homens enfurecidos, homens que não conseguem aceitar as diferenças e que não toleram outra verdade que não seja a pregada por eles. Nosso muito obrigado a Tomasz Stefanko, por partilhar essas fotografias conosco.

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