Desde a Copa de 1930, sediada no Uruguai, até a última, disputada na África do Sul, foram 16 derrotas sofridas pela seleção brasileira em Copas do Mundo. A maioria dessas derrotas já foram totalmente esquecidas, em certa parte, porque o adversário era claramente superior. Outras, como espectros, continuam a assombrar nossas memorias, nos lembrando de que no futebol, ser o melhor não é garantia de vitória e que tradição nem sempre é sinônimo de competência.
5 – Favoritismo, falta de seriedade e o show de um maestro francês
Talvez nenhuma seleção brasileira tenha sido tão favorita para ganhar uma Copa do Mundo quanto à que foi para a Alemanha em 2006. Tínhamos os melhores jogadores, tínhamos ganhado a Copa das Confederações em 2005 com uma humilhante vitória sobre os argentinos, tínhamos o otimismo da torcida.
Entretanto, tudo começou a desandar assim que a seleção pisou na Europa. Os treinos viraram espetáculos circenses abertos à torcida, os jogadores pareciam o Justin Bieber, tamanha a voracidade das tietes. Ronaldinho Gaúcho, em especial, era tratado como se fosse a oitava maravilha do mundo, a cada embaixadinha, a cada firula, milhares de louvores enalteciam a habilidade do brasileiro, que nos dois anos anteriores ganhara o título de melhor jogador do mundo. Para completar o teatro de horrores, Ronaldo, visivelmente fora de forma, passou a sofrer com calos causados pela chuteira, um problema que até aqui, na várzea, já foi erradicado.
Então, chegou a hora de enfrentarmos a claudicante, porém, concentradíssima França. O que assistimos parecia uma continuação da final de 1998, um baile do maestro Zidane. O francês nos deu uma aula de como se deve jogar no meio campo. Zidane driblou, marcou, tabelou, chapelou, fez lançamentos, e, é claro, cobrou a falta que resultou no gol de Thierry Henry, gol marcado enquanto Roberto Carlos amarrava as chuteiras. Os favoritos voltaram para casa bem antes do que se pensava.
4 – Líberos, zagueiros e volantes contra um gênio argentino.
Os presságios traziam maus agouros sobre a seleção brasileira que partiu para disputar a Copa de 1990, na Itália. As eliminatórias tinham sido conturbadas, uma legítima batalha campal contra os chilenos com direito a fogueteira, um show de encenação do goleiro Rojas, mordidas na orelha e expulsões antes mesmo do jogo começar. Às vésperas da Copa, Romário sofreu uma séria lesão que lhe tirou a posição de titular absoluto do ataque brasileiro, e, para completar, a dois meses da estreia na Copa, perdemos um jogo treino contra um selecionado da Úmbria, formado por jogadores de times da terceira e da quarta divisão italiana.
Fomos para a Itália com uma novidade, o tal do líbero. Um esquema tático que consagrou gigantes como Baresi e Beckenbauer, mas que por aqui, nunca havia sido usado. O excelente Mauro Galvão foi o escolhido para desempenhar a função.
Para ser franco, apesar de não ser nenhum time dos sonhos, a seleção brasileira de 1990 era bem organizada, principalmente no esquema defensivo, contudo, também era extremamente previsível, nos faltava a centelha de genialidade. No confronto com a Argentina, válido pelas oitavas de final, dominamos o rival durante todo o jogo e perdemos inúmeras chances de gol. Foi então que Maradona, dominou a bola no círculo central e foi deixando para trás volantes, zagueiros e líberos, até passar a bola para Caniggia, que driblou Taffarel e empurrou para as redes, decretando a nossa despedida da Copa. Após o término da partida, Maradona desfilou com a camisa do amigo Careca. A amarelinha, realmente, cai muito bem nos gênios da bola!
3 – A triste descoberta de que já não éramos os melhores do mundo
"O time deles é bom, mas os holandeses não têm tradição em Copas e isso pesa. A Holanda não me preocupa. Estou pensando na final com a Alemanha." – Zagalo, técnico do Brasil na Copa de 1974, na Alemanha.
Fomos para a Alemanha em 1974 ainda embriagados pelo mágico futebol da seleção brasileira de 1970, contudo, era hora de despertar do sonho. Pelé se despedira da seleção brasileira e Tostão abandonara os gramados devido à lesão no olho esquerdo. Mas ainda tínhamos Rivelino e Jairzinho, e sejamos sinceros, a presença desses dois gigantes já era o bastante para encher a torcida de esperança.
No meio do caminho, porém, havia uma Holanda. Um time revolucionário, comandado pelo genial Cruyff. Não obstante a falta de preocupação do nosso técnico, fomos esmagados pelo futebol dos holandeses e voltamos pra casa com a dura descoberta de que já não éramos os melhores do mundo.
2 – Paolo Rossi, maldito sejas por toda a eternidade!
Que esporte fantástico é o futebol. É o único que permite ao mais fraco sonhar com a vitória sobre o mais forte. É o único que concede aos derrotados a glória que caberia aos vencedores. Igual à Hungria de Puskas e a Holanda de Cruyff, o Brasil de Zico, Sócrates, Falcão, Éder, também é lembrado como um dos melhores times de todos os tempos sem ter vencido nada.
Talvez seja difícil para os mais jovens entender o fascínio que a seleção brasileira de 1982 exerce sobre os mais velhos, os felizardos que tiveram a oportunidade de ver todos aqueles craques reunidos sob a batuta de mestre Telê Santana. Era um futebol voltado para a beleza do gol, era uma arte feita com os pés.
O destino, porém é irônico e cruel. Na tarde de 5 de julho de 1982, ele nos colocou nas mãos da defensiva e pragmática Itália, ou melhor, do carrasco Paolo Rossi, autor de três gols naquela partida. Para nossa classificação bastava o empate, por duas vezes a tivemos em nosso poder, nossa vocação, porém, era o ataque, a vitória, a arte de jogar bola. Por termos esse espírito, pagamos com a derrota. Meu saudoso Brasil de 1982, porque hei de negar que chorei por ti?
1 – 200 mil brasileiros silenciados por um uruguaio
Há várias formas de se ferir um povo: guerras, escravidão, perseguição étnica, falta de liberdade. O uruguaio Alcides Ghiggia nos feriu com um gol. Um gol que tirou o sonho dos brasileiros de verem a nossa seleção sagrar-se campeã em casa, em pleno Maracanã lotado por 200 mil torcedores, 200 mil almas que foram silenciadas pelo golpe fatal do atacante celeste.
Tudo já foi dito sobre a fatídica decisão de 1950. Todas as acusações já foram feitas: clima de já ganhou, falha de Barbosa, menosprezo pelo adversário, desculpas marteladas ao longo das décadas, lamentações usadas na tentativa de justificar a derrota para os uruguaios.
Ano que vem, no Brasil, teremos a chance de redenção. Mas não se esqueçam: os uruguaios estarão aqui, todos os fantasmas do passado voltarão para assombrar nossos corações. Pode ser covardia da minha parte, mas, de todos os nossos grandes adversários, o que mais me assusta é o Uruguai. E olha que em 1950 eu ainda nem existia.
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