Durante a Segunda Guerra Mundial foram construídos um grande número de acampamentos para abrigar prisioneiros de guerra. Em todos os continentes da Terra, milhares e milhares de homens e mulheres corajosos o suficiente para serem baleados e inteligentes o suficiente para saber quando se render, foram mantidos em espaços confinados onde podiam interagir uns com os outros. Sem surpresa, a ordem não durou muito tempo. Milhares de tentativas de fuga foram feitas, uns simplesmente queriam voltar para casa, outros desejavam escalar montanhas e alguns só queriam um encontro amoroso.
1 - Oflag 17-A era um campo alemão de prisioneiros de guerra na Áustria, que abrigava 5.000 detentos, em sua maioria oficiais franceses, além de algumas centenas de poloneses. Por alguma razão, aprisionar no mesmo lugar, milhares de pessoas inteligentes e astutas o suficiente para serem promovidas à uma posição elevada, não pareceu insensato aos alemães. Os franceses imediatamente formaram uma comissão de escape, uma câmera foi contrabandeada para o acampamento, peça por peça, dentro de salsichas, para que eles pudessem documentar a fuga.
Totalmente em segredo e arriscando suas vidas, os prisioneiros filmaram cerca de 30 minutos de imagens que detalham a vida no campo, bem como a tentativa de fuga. O túnel ficava debaixo do teatro que os guardas tinham deixado os presos construir. Com a entrada decorada com ramos, para obscurecer a visão dos guardas, e perto da cerca, o túnel só pode ser cavado quando a Cruz Vermelha Internacional exigiu que fossem dadas pás aos prisioneiros, para que eles pudessem cavar trincheiras em caso de ataques aéreos. Em 17 de setembro de 1943, o túnel foi concluído, tinha 90 metros de comprimento e o final ficava a poucos metros depois da cerca. Na mesma noite, um grupo de prisioneiros escapou e como o desaparecimento deles passou despercebido, outro grupo saiu na noite seguinte. Essa foi maior fuga na Segunda Guerra Mundial, 132 homens escaparam, embora 126 deles tenham sido recapturados. Apenas dois fugitivos conseguiram chegar em casa.
Você pode assistir o vídeo feito pelos prisioneiros de Oflag 17-A no Youtube [ Link ]
2 - Felice Benuzzi era membro do Serviço Colonial Italiano, em Adis Abeba, quando ele foi preso pelos britânicos. O acampamento 354, em Nanyuki, a 160 quilômetros ao norte de Nairóbi, no Quênia, localizava-se nas proximidades do Monte Quênia e foi o "lar" de 10 mil prisioneiros de guerra, a maioria civis. Benuzzi achava a vida no campo muito tediosa e decidiu viver a vida no limite, começando com a fuga daquele lugar.
Benuzzi havia planejado fugir do acampamento, escalar o Monte Quênia, e depois (sem nenhum lugar para ir) regressar ao seu beliche no Acampamento 354. Deixando um bilhete para avisar os britânicos de que ele voltaria, Felice e outros dois prisioneiros, por ele recrutados para a escalada, escaparam do campo. Evitando tanto os britânicos quanto os animais selvagens, o grupo começou sua caminhada perigosa para o Monte Quênia, com apenas os suprimentos improvisados que puderam reunir no acampamento. Uma vez lá, eles escalaram uma das montanhas mais perigosas da época, subindo a 5.000 metros, o terceiro pico mais alto do Monte Quênia, maior do que qualquer pico dos Alpes. Eles levantaram uma bandeira improvisada e desceram a montanha. Depois de conseguir o que parecia impossível, o grupo enfrentou a morte mais uma vez ao esgueirar-se de volta para dentro do campo. Felice Benuzzi sobreviveu à guerra e mais tarde escreveu um livro sobre sua aventura.
3 - Karl Rabe, um tripulante do submarino alemão U-Boat 35, foi capturado e preso no Campo de Internação Lethbridge, no Canadá, quando sua embarcação foi atacada em 29 de novembro de 1939. Apesar de ter sido preso em outro continente, com o oceano a separá-lo de casa, Karl fez pelo menos quatro tentativas de fuga durante sua estadia em Lethbridge. Em uma delas, ele se esgueirou para fora do hospital do campo, ainda sob o efeito de drogas e com os pés descalços, andou toda a noite e durante o dia seguinte na neve, na esperança de alcançar os Estados Unidos, até então então neutros, antes de ser recapturado. Em sua mais famosa tentativa de fuga, Rabe conseguiu montar um balão de ar quente no acampamento. Usando sacos de dormir como tecido, Rabe costurou os 7 x 3 metros do balão com a mão. Infelizmente, ele não conseguiu sair do chão, devido aos problemas com o aquecimento do gás.
4 – O segundo-tenente Sam Grashio da Força Aérea dos EUA estava baseado nas Filipinas, quando os japoneses invadiram as ilhas em 08 de dezembro de 1941. Capturado durante a defesa de Luzon, em 09 de abril de 1942, ele e outros prisioneiros começaram o suplício que ficou conhecido como a Marcha da Morte de Bataan, a peregrinação ao campo de prisioneiros durante a qual milhares morreram. Os sobreviventes chegaram ao Campo O'Donnell, onde foram presos e onde muitos morreram de fome.
Em outubro de 1942, os julgados aptos para o trabalho (apenas 1.000 dos 75.000 capturados, incluindo Sam) foram enviados para Davao, na ilha meridional de Mindanao e forçados a trabalhar. Em abril de 1943, apenas metade dos trabalhadores ainda eram capazes de exercer alguma atividade física regular. Depois de três meses de planejamento, Sam Grashio, outros nove americanos e dois presidiários filipinos, fugiram pela selva para deixar as condições horríveis do campo de prisioneiros. Com os filipinos como guias, o grupo nadou através de pântanos e perambulou pela floresta por três dias. Eventualmente, eles encontraram um grupo de guerrilheiros filipinos, liderados por um americano, Wendell Fertig. Mesmo depois de seu calvário na marcha da morte, o grupo trabalhou com os guerrilheiros por vários meses, até que todos ganharam um passeio para terras mais amigáveis.
5 - Franz von Werra era um ás da aviação da Luftwaffe, creditado com oito vitórias aéreas e cinco aviões derrubados. Em 5 de setembro de 1940, von Werra foi derrubado na Inglaterra e capturado. Em 7 de Outubro e 20 de Dezembro de 1940, o piloto alemão tentou fugir e foi recapturado em ambas as vezes. Uma dessas tentativas envolveu saltar de uma janela de um trem em movimento. Depois da segunda tentativa, Franz foi transferido para um campo no Canadá, com os Aliados, pensando que o Oceano Atlântico seria o suficiente para fazê-lo desistir de fugir.
No mês seguinte, em 21 de janeiro de 1941, von Werra escapou pela última vez. Ele conseguiu atravessar a fronteira para os Estados Unidos, de onde ele viajou para o México, América do Sul e Espanha, sua última etapa da viagem para a Alemanha, chegando em casa em 18 de abril de 1941. Já em julho de 1941, Franz foi flagrado na frente oriental, reivindicando mais 13 vitórias nos céus da Segunda Guerra Mundial. Franz von Werra morreu em um acidente, durante um treinamento em 25 de outubro de 1941. Ele é lembrado como o único prisioneiro de guerra alemão capturado pelos britânicos que conseguiu escapar e voltar para casa durante a guerra, tendo atravessado um continente e um oceano para fazê-lo.
6 - Heinrich Harrer, um alpinista de nacionalidade austríaca, estava na Índia em uma expedição quando a guerra eclodiu. O jovem, contudo experiente alpinista, era um dos mais rápidos esquiadores de descidas do mundo e tinha facilmente garantido a liderança sobre a expedição. Os ingleses, temendo a ameaça de espiões, aprisionaram os cidadãos alemães e austríacos na Índia, no início da guerra, com Harrer e sua expedição sendo enviados para o Campo Dehradun.
Embora mais tarde tenha se tornado evidente que Harrer tinha sido membro da SS, acredita-se que ele estava na Índia como um não-combatente. Depois de várias tentativas, Harrer conseguiu escapar do acampamento com Peter Aufschnaiter, um companheiro de prisão, em 1944. Cercado por forças aliadas, eles tomaram a única rota de fuga possível e após 21 meses, conseguiram atravessar as montanhas do Himalaia até chegarem ao Tibete. Quando finalmente alcançaram Lhasa, em 15 de janeiro de 1946, a guerra já havia terminado, mas os dois decidiram ficar. Harrer tornou-se funcionário do governo tibetano e foi professor do jovem Dalai Lama.
7 - Horace Greasley, um soldado britânico capturado durante a retirada de Dunquerque, foi levado para o Campo Lamsdorf, na Polônia. O que fez de Horace uma pessoa incrivelmente interessante não foi o fato de que ele ficou cara-a-cara com Heinrich Himmler, o líder da SS, e exigiu que fossem dadas melhores rações de alimentos aos prisioneiros, mas sim, devido ao fato de que ele escapou e voltou para a prisão mais de 200 vezes. O motivo? Namorar. Em Lamsdorf, que estava anexado a uma pedreira de mármore, Greasley conheceu Rosa, a filha do diretor da pedreira. De ascendência judaica, Rosa mantinha suas origens em segredo trabalhando como intérprete para o campo de prisioneiros. No final de 1940, Greasley foi transferido para Freiwaldau, um anexo de Auschwitz, a 65 km de distância de Rosa. Isso não impediu Horace, que, em mais de 200 ocasiões, saiu do campo e encontrou-se com a amada. Ao longo do relacionamento, Rosa ajudou Horace a contrabandear alimentos e partes de um rádio para o campo.
8 - Johnnie Matheson, da 51ª Divisão Highland, foi capturado no norte da França, quando St. Valery caiu para os alemães. Ele foi forçado a marchar, junto com milhares de outros, por toda a França até à Alemanha. Em sua quarta tentativa de fuga, Johnnie quase chegou à Suíça, até que ele se deparou com um rio, infelizmente, nadar era algo que não tinha sido ensinado no treinamento básico. Recapturado pela Gestapo, o escocês teve as unhas removidas e foi jogado numa solitária no subterrâneo da prisão.
Quando foi finalmente transferido para uma cela, Matheson foi designado para trabalhar em uma fábrica. Agora fluente em alemão, ele convenceu o proprietário a fornecer-lhe material para uma fuga. Em junho de 1944, os prisioneiros foram levados para os Alpes, onde acredita-se que seriam mortos. Dois dias depois, durante a marcha, Matheson se escondeu em uma vala. Após dias de caminhada e pesando apenas 38 quilos, ele foi encontrado por uma patrulha americana. Com a guerra ainda em fúria, ele lutou com os americanos durante meses, da fronteira tcheca até Praga. Após a paz ser declarada, Matheson voltou para casa.
9 - Reinhold Wilhelm Pabel chegou a um campo de prisioneiros dos Estados Unidos em Norfolk, Virginia, em janeiro de 1944, após ser capturado pelos americanos. Bem educado, fluente em inglês e russo, Reinhold, depois de ser transferido para o Campo Washington, alegou que estava participando em uma peça teatral montada pelos prisioneiros e conseguiu uma camisa branca bem como corante azul para as calças da prisão. Em 10 de setembro de 1945, Pabel vestiu seu "traje teatral" por baixo do uniforme da prisão, se arrastou por baixo da cerca e, depois de se esconder brevemente em um bosque, se livrou do uniforme, caminhou pela rodovia. . . à vista do acampamento. . . para a liberdade.
Com apenas 10 dólares no bolso, adquiridos com a venda de suas medalhas e equipamentos militares, Reinhold pegou carona para Chicago. Lá, mudou sua identidade para Phillip Brick e apenas 10 dias depois de escapar, já possuía um cartão de segurança social. Trabalhou em vários lugares: lavou louça, trabalhou em uma pista de boliche e também no jornal Chicago Tribune. Seis meses após a fuga, o alemão já pagava seu quinhão do imposto de renda americano. Em 9 de março de 1953, o FBI, que tinha Reinhold em sua lista de procurados, o capturou na livraria que agora ele possuía. Apesar do apoio jurídico e financeiro de amigos, Pabel foi deportado para a Alemanha juntamente com americana com quem tinha se casado e com os filhos que tiveram juntos. Eles foram autorizados a retornar no ano seguinte.
Pilotos da Luftwaffe examinam uma das pernas de Bader - presumivelmente a perna enviada pelos ingleses por paraquedas para substituir a prótese perdida. |
10 - Douglas Bader foi um dos melhores pilotos da RAF, com 23 vitórias aéreas. Em 9 de agosto de 1941, ele sofreu uma colisão no ar sobre Le Touquet, França. Bader foi capturado assim que seu paraquedas tocou o chão. Após sua captura, os alemães ficaram chocados ao saber que aquele às da aviação não tinha pernas e que havia perdido as duas próteses na queda.
Levado para um hospital em St. Omer, Douglas fez sua primeira tentativa de fuga, logo que uma de suas próteses lhe foi devolvida, usando uma corda feita com lençóis e só com uma perna, ele conseguiu chegar até uma fazenda local, antes de ser recapturado.
Os alemães, especialmente os pilotos da Luftwaffe, mais uma vez impressionados com o piloto sem pernas, convenceram o britânicos a enviar uma prótese substituta para a perna perdida de Bader, via lançamento aéreo.
Depois de três meses em Stalag Luft III, Bader foi transferido para Stalag Luft VIIIB em Lamsdorf, onde ele fez outra tentativa de fuga. Ele e outros quatro se juntaram a um grupo de trabalho fora do acampamento, com a intenção de fugir em direção à fronteira polonesa. O alarme foi dado quando um oficial da Luftwaffe que havia ido a Lamsdorf para visitar Bader não o encontrou. Bader, novamente foi recapturado e levado a Lamsdorf. Poucos dias depois, ele foi transferido para o Castelo de Colditz - Oflag IVC. Colditz era considerado à prova de fuga. Bader permaneceu lá, até que os prisioneiros do campo foram libertados em 15 de abril de 1945.
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