Muros altos, portões e cercas de arame farpado cercam o antigo complexo. O ranger do assoalho e os galhos arranhando as janelas sibilam tetricamente. Sorrateiras ervas daninhas rastejam para dentro do prédio. Como é de se esperar, o lugar não atrai muitos visitantes e os intrépidos aventureiros dispostos a explorá-lo, geralmente estão sozinhos nessa missão. Lá dentro, dois lembretes deixados pelos antigos moradores ajudam a contar a sinistra história do lugar: um imponente mosaico de uma águia nazista, símbolo do Terceiro Reich e velhos jornais russos do tempo da Guerra Fria.
Olhando ao redor, ao se ver a pintura descascada e os jardins que cresceram sem nenhum cuidado, torna-se difícil acreditar que esses degradados edifícios já foram usados por dois dos regimes mais totalitários vistos na história da humanidade. Mas, esse foi exatamente o propósito para o qual Krampnitz serviu. Localizado na saída de Potsdam, na Alemanha, o complexo foi usado pela primeira vez como local de treinamento para os oficiais mais promissores da cavalaria nazista, e em seguida, como posto avançado dos soviéticos durante a Guerra Fria, até 1992, quando foi abandonado.
Krampnitz foi construído em 1937, durante o período de rearmamento da Alemanha, quando o partido nazista começava, secretamente, a acumular armas, ferindo as condições do Tratado de Versalhes. Olhando para os aposentos tomados pela decadência, fica claro que ninguém usa o complexo a bastante tempo.
A cavalaria alemã foi a primeira a fazer uso do enorme complexo. Nele funcionava um centro de treinamento equestre para os oficiais nazistas mais talentosos. Agora, ao olharmos para o abandonado prédio cinza, só podemos imaginar como era movimentado o lugar, com funcionários e oficiais nazistas entrando e saindo a todo momento e o constante galope dos majestosos animais usados para treinar os cavaleiros do Terceiro Reich.
Pensar em tantos oficiais militares, devidamente trajados com seus pomposos uniformes nazistas e praticando calmamente com seus cavalos, é um tanto quanto perturbador. Sem dúvida, eles tratavam muito melhor seus valiosos garanhões e éguas do que os milhares de seres humanos considerados "indesejáveis", cujo destino era a morte nos infames campos de concentração.
A sala retratada na fotografia abaixo, é a prova da fortuna e dos esforços investidos na construção de Krampnitz. Tudo nela é de madeira maciça e os detalhes do teto foram entalhados à mão. Krampnitz, definitivamente, não era um quartel comum.
Há mais de 50 prédios em Krampnitz, o que dá uma ideia da magnitude do lugar. O complexo tinha seu próprio teatro, clube e campo de tênis. Um conforto bem distante das agruras dos campos de batalha e a centenas de anos-luz das condições na qual milhões de pessoas, aprisionadas pelos nazistas, definharam até a morte.
Alguns dos edifícios em Krampnitz foram usados como depósitos para o espólio nazista. Seria interessante saber, o quanto os alemães levaram com eles quando abandonaram o complexo, em abril de 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Mas o lugar não permaneceria vazio por muito tempo. Krampnitz foi tomado pelos russos apenas um dia depois da fuga alemã.
Os soldados soviéticos que ficaram aquartelados em Krampnitz, pertenciam à 35ª Companhia da Divisão Motorizada de Rifles. Após a mudança para o complexo, a companhia passou a ser conhecida como a 1ª Divisão Mecanizada. Esses militares faziam parte de Exército Vermelho, durante a Segunda Guerra Mundial e passaram a se envolver na ocupação da Alemanha Oriental, na Guerra Fria. As condições do complexo sob o comando dos russos não lembravam nem de longe o antigo luxo da época dos nazistas. Algumas paredes estão revestidas com jornais soviéticos da década de 1980, sugerindo que eles tenham sidos usados para isolamento térmico, durante o rigoroso inverno alemão.
Quando a União Soviética se desfez, as suas instalações na Alemanha foram abandonadas. Os dias de glória de Krampnitz perderam-se no tempo, senhor implacável de tudo, e o complexo caminha lentamente para a ruína total. Quem poderá dizer quantos dias ainda restarão até que Krampnitz seja por fim demolido para dar lugar a algo novo e luminoso?
Fonte da fotografias: a última é de autoria de Foantje, todas as outras pertencem à Luisa Orduño.
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