De pé sobre um pódio, diante de milhares de membros do partido nazista, Hitler cruzava os braços e esperava um minuto inteiro antes de começar a falar para uma plateia que já o esperava por mais de uma hora. Quando discursava, o líder nazista era um mestre da oratória, capaz de manipular as massas como poucos o fizeram. Nos primeiros anos de sua ascensão ao poder na Alemanha, ele discursou muitas vezes em salões de cervejarias, conduzindo o ritmo do discurso conforme a embriaguez da multidão ia crescendo. Ele começava preciso, lógico e de forma contida, mas, com o público aquecido, ele se lançava em um falatório delirante, num estilo de discurso quase hipnótico. Hitler era fascinado pelo mesmerismo e até contratou um treinador de voz para aperfeiçoar esse talento.
O método por trás da eficácia desses discursos empolgantes de Hitler foi revelado em um álbum de fotografias extraordinárias. As incríveis imagens mostram o ditador ensaiando para seus monólogos virulentos, valendo-se de um arsenal de expressões faciais e de gestos com as mãos. As fotos foram tiradas por Heinrich Hoffmann, fotógrafo oficial de Hitler, para dar a Führer, uma visão de como ele era visto pelo público alemão.
As fotografias, tiradas no final de 1920, mostram Hitler apontando para um público imaginário, levantando o punho cerrado, abrindo as mãos como se estivesse implorando à uma multidão para se levantar e franzindo a testa com raiva. Hitler ordenou que essas fotos fossem destruídas porque "feriam a sua dignidade", entretanto, elas sobreviveram à guerra e foram publicadas no livro de memórias de Heinrich Hoffman: Hitler Was My Friend ( Hitler Foi Meu Amigo ). Elas captaram o treinamento meticuloso e o esforço do Führer nazista em aperfeiçoar seus famosos discursos, nos bridando com uma rara visão da vaidade e da personalidade controladora do líder alemão.
Hitler ensaiava seus gestos, expressões e voz, para obter a reação que desejava de seus ouvintes. Ele olhava para as fotografias e então decidia o que seria usado em seus discursos e o que deveria ser evitado. Hoffmann, que apresentou Hitler para Eva Braun, sua assistente de estúdio na época, passou quatro anos na prisão por ser um nazista proeminente. Ele morreu em 1957, aos 72 anos.
Nós, distantes que estamos no tempo, costumamos imaginar Hitler quase como um palhaço, mas ele tinha muito carisma e seus discursos fizeram os alemães acreditar sinceramente que ele iria conduzí-los de volta à antiga glória germânica. Em 1932, a produção da indústria alemã caiu pela metade, com seis milhões de desempregados durante a Grande Depressão, portanto, a fim de influenciar as massas, Hitler falava de sua visão de um "grande renascimento nacional" e o maior trunfo do ditador era a oratória.
Egon Hanfstaengl, o filho do assessor de imprensa estrangeira de Hitler, comentou sobre a atração exercida pelo ditador nazista: "Ele tinha essa habilidade que é necessária para fazer as pessoas pararem de pensar de forma crítica, fazendo-as aceitar tudo o que lhes era dito". Com sua elaborada oratória, com seus discursos cuidadosamente orquestrados para inflamar a unidade e a grandeza nacional, Hitler deu aos alemães o que eles queriam ouvir. Desse modo, uma cultura que produzira gênios em todos os campos da arte, da ciência e do pensamento, foi conduzida quase sem resistência para o abismo da loucura nazista, mergulhando a humanidade na maior guerra já presenciada neste planeta.
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