Os espartanos podem ter criado um dos melhores exércitos do mundo antigo, mas sua cultura era tão dura que a palavra "espartano" tornou-se sinônimo de uma forma austera de vida. A sociedade de Esparta foi cuidadosamente construída em torno de um rigoroso código de moral e de senso de dever; os espartanos sofriam privações extremas no caminho para tornarem-se aceitos como cidadãos de pleno direito. Da formação militar de adolescentes a trotes patrocinados pelo Estado, explore nove razões pelas quais esses antigos guerreiros gregos tiveram uma existência bem árdua.
1 – Os espartanos tinham que provar sua aptidão desde o nascimento
O infanticídio era perturbadoramente comum no mundo antigo, mas em Esparta, essa prática era organizada e gerida pelo Estado. Todas as crianças espartanas eram levadas perante um conselho de inspetores que as examinavam à procura de defeitos físicos; as que não estavam à altura dos padrões eram deixadas para morrer. O antigo historiador Plutarco escreveu que esses "mal-nascidos" bebês espartanos eram jogados em um abismo ao pé do Monte Taygetus, mas a maioria dos historiadores modernos descarta essa ideia como sendo um mito. Se um bebê espartano fosse considerado incapacitado para o seu futuro dever como soldado, ele seria, provavelmente, abandonado em uma colina próxima. Deixada sozinha, a criança fatalmente morreria, ou seria resgatada e adotada por estranhos.
Os bebês que passavam na inspeção também não tinham vida fácil. Para testar suas constituições, eles eram frequentemente banhados em vinho, em vez de água. Eles também eram frequentemente ignorados quando choravam e ensinados a nunca temer a escuridão ou a solidão. Novamente de acordo com Plutarco, essas "amorosas" técnicas parentais eram tão admiradas por estrangeiros, que as mulheres espartanas eram procuradas por suas habilidades como enfermeiras e babás.
2 – As crianças espartanas eram colocadas em um rígido sistema de educação militar
Quando completavam sete anos, os meninos espartanos eram retirados da casa dos pais para iniciarem a "agogê", um regime de treinamento patrocinado pelo Estado concebido para moldá-los em guerreiros qualificados e cidadãos exemplares. Separados de suas famílias e alojados em barracas comuns, os jovens soldados em formação eram instruídos na arte da guerra, na caça, atletismo, dança, canto. Aos 12 anos, esses meninos eram privados de todas as roupas, exceto por um manto vermelho e obrigados a dormir fora da escola, fazendo suas próprias camas com junco. Para prepará-los à vida no campo de batalha, os meninos soldados também eram incentivados a procurar e até mesmo a roubar sua comida, mas se detectados, eram punidos com chicotadas.
Assim como de todos os homens espartanos se esperava que fossem guerreiros, esperava-se de todas mulheres que tivessem filhos. As meninas espartanas eram autorizadas a permanecer com seus pais, mas elas também recebiam uma educação rígida e eram submetidas a um rigoroso programa de treinamento. Enquanto os meninos eram preparados para uma vida em campanha, as meninas praticavam dança, ginástica e arremesso de dardo e disco, que segundo o pensamento espartano, as tornava fisicamente fortes para a maternidade.
3 – Trotes e brigas eram incentivados entre os jovens espartanos
Grande parte da agogê envolvia assuntos típicos de escola como a leitura, a escrita, a retórica e a poesia, mas o regime de treinamento também tinha um lado vicioso. Para endurecer os jovens guerreiros e incentivar o seu desenvolvimento como soldados, os instrutores e os homens mais velhos muitas vezes instigavam brigas e discussões entre os formandos. O agogê, de certo modo, foi parcialmente projetado para ajudar a tornar os jovens resistentes à dificuldades como o frio, a fome e a dor. Os meninos que mostravam sinais de covardia ou fraqueza estavam sujeitos à provocações e a violência pelos pares e também pelos superiores.
Até mesmo as meninas espartanas participavam desse "bullying" ritualizado. Durante certas cerimônias religiosas e estatais, as meninas compareciam diante dos dignitários espartanos e, em coral, cantavam canções para os jovens da agogê. Muitas vezes, elas escolhiam rapazes específicos para ridicularizá-los, a fim de envergonhá-los. A intenção era incentivar tais garotos a intensificar os treinamentos.
4 – Os homens espartanos eram soldados por toda a vida
A vida de soldado era a única opção para os jovens que queriam se tornar cidadãos plenos, ou "homoioi." De acordo com os decretos do legislador e reformador espartano Licurgo, os cidadãos do sexo masculino eram legalmente impedidos de escolher qualquer profissão que não fosse a militar. Esse compromisso podia durar décadas, porque os soldados eram obrigados a permanecer em serviço de reserva até a idade de 60 anos.
Por causa de sua preocupação com a arte da guerra; a indústria e a agricultura de Esparta ficavam totalmente a cargo das classes mais baixas. Trabalhadores qualificados, comerciantes e artesãos faziam parte da "perioeci", uma classe de cidadãos livres, mas sem todos os direitos dos esparciatas, que vivia na região circundante da Lacônia. Enquanto isso, a agricultura e a produção de alimentos recaía sobre os hilotas, pessoas escravizadas pelo Estado, uma classe servil que compunha a maioria da população de Esparta. Ironicamente, o medo constante de revoltas e levantes hilotas foi uma das principais razões por que a elite de Esparta tornou-se tão dedicada a construção de um forte regime militar.
5 – Os jovens espartanos eram ritualisticamente espancados e açoitados
Uma das práticas mais brutais de Esparta envolvia o chamado "concurso de resistência", no qual adolescentes eram açoitados, às vezes até a morte, em frente a um altar no santuário de Artêmis Ortia. Conhecida como "diamastigosis", esta prática anual era originalmente usada como um ritual religioso, um teste de coragem e resistência à dor para os meninos em treinamento. Mais tarde, o ritual transformou-se em um espetáculo sanguinário, imediatamente após Esparta entrar em declínio e ficar sob o controle do Império Romano. Até o terceiro século d.C existiu um anfiteatro construído especialmente para essa prática, de modo que um grande número de "turistas" visitava a cidade para assistir o terrível suplício dos jovens espartanos.
6 – Em Esparta, os alimentos eram intencionalmente mantidos escassos
Quando um espartano completava a fase principal da agogê, em torno dos 21 anos, ele ganhava o direito de participar na "syssitia", um refeitório de estilo militar onde os cidadãos se reuniam para as refeições públicas. A fim de preparar os soldados para o esforço de guerra e desencorajar a obesidade, a quantidade de alimentos distribuída nesses refeitórios comuns era sempre moderada, ligeiramente insuficiente. Os espartanos eram famosos por sua devoção à aptidão física e à dieta adequada; eles tinham uma aversão especial para com os cidadãos com excesso de peso, que eram ridicularizados publicamente e corriam o risco de ser banidos da cidade-estado.
O vinho era um produto básico da dieta espartana, mas raramente se bebia em excesso e os jovens eram sempre advertidos sobre o problema da embriaguez. Em alguns casos, os escravos hilotas eram forçados a desfilar descontroladamente embriagados para os soldados em formação, uma forma de mostrar para os jovens espartanos os efeitos negativos do álcool.
7 – O espartano só era autorizado a viver com sua esposa depois dos 30 anos
A sociedade espartana não desencorajava o amor romântico, mas o casamento e os filhos eram sujeitos à algumas restrições culturais e governamentais bem peculiares. O Estado aconselhava que os homens se casassem aos 30 anos e as mulheres aos 20 anos. Uma vez que todos os homens eram obrigados a viver em um quartel até os 30 anos, os casais, cujo homem não atingira essa idade, eram forçados a viver separadamente até que o marido completasse seu serviço militar obrigatório.
Os espartanos viam o casamento principalmente como um meio para conceber novos soldados e os cidadãos eram incentivados a considerar a saúde e a aptidão de seu companheiro antes de viverem juntos. Na verdade, esperava-se dos maridos que fossem incapazes de ter filhos, que procurassem substitutos viris para engravidar suas esposas. Da mesma forma, os solteiros eram vistos como negligenciando o seu dever sagrado de gerar novos soldados, sendo muitas vezes publicamente ridicularizados e humilhados nas festas religiosas.
8 – Para um espartano, render-se era a humilhação suprema
Os soldados espartanos eram treinados para lutar sem medo até o último homem. A rendição era vista como a epítome da covardia e os guerreiros que voluntariamente entregavam as armas ficavam tão envergonhados, que muitas vezes recorriam ao suicídio. De acordo com o historiador Heródoto, dois soldados espartanos que lutaram na famosa Batalha das Termópilas retornaram à sua terra natal em desgraça. Um se enforcou e o outro só teve sua honra restaurada depois de morrer lutando em outra guerra.
Se um soldado espartano morresse em batalha, ele era visto como tendo completado o seu dever como cidadão. Na verdade, a lei espartana determinava que apenas duas classes de pessoas podiam ter seus nomes inscritos em suas lápides: as mulheres que morriam no parto e os homens que tombavam em combate
9 – Nem os reis espartanos tinham vida fácil
Os reis espartanos estavam sujeitos a muitas das mesmas leis e convenções sociais impostas a seus súditos, entre elas, a agogê. Os monarcas de Esparta podiam ser punidos caso sua liderança militar fosse considerada inapta em tempos de guerra; às vezes eles também eram censurados por coisas aparentemente triviais. De acordo com o antigo historiador Teofrasto, o rei Arquídamo foi multado por se casar com uma mulher pequena, porque os espartanos acreditavam que ela daria à luz "régulos" em vez de reis.