Rodovia 80 é o nome oficial de uma autoestrada que sai da Cidade do Kuwait e atravessa as cidades fronteiriças de Abdali e Safwan, seguindo até Bácora, no Iraque. Durante a Guerra do Golfo, essa rodovia se tornou o palco de algumas das imagens mais inquietantes daquele conflito, imagens tão perturbadoras que lhe valeram o título de Rodovia da Morte.
Em fevereiro de 1991, depois de um mês e meio de combates entre o exército iraquiano e a coalisão da ONU, liderada pelos americanos, a Guerra do Golfo caminhava para o desfecho previsível. O exército de Sadan Husein, apesar de contar com um efetivo de meio milhão de soldados e conhecer a região como ninguém, não seria páreo para as tropas formadas por militares de 32 países, enviados para as areias do oriente médio a fim de libertar o Kuwait, e, é claro, assegurar a posse do precioso ouro negro, que jorra abundantemente naquelas terras.
Vista aérea dos destroços de tanques e caminhões blindados iraquianos na Rodovia 80, em 8 de março de 1991 |
A estrada, um ponto estratégico na rota de saída para o litoral e a principal via de comunicação com o Kuwait, se tornou um autêntico cemitério de veículos, um cenário digno de qualquer filme pós-apocalíptico. Os iraquianos, dirigindo todo tipo de veículos, muitos deles roubados do Kuwait, voltavam para o seu país quando os aviões americanos atacaram a dianteira e a retaguarda do comboio, criando um gigantesco engarrafamento. Outras fontes afirmam que fuzileiros navais americanos, haviam anteriormente bloqueado a rodovia com minas antitanque e esperaram a chegada da caravana em fuga. Os Estados Unidos confirmaram o ataque aéreo e a intervenção das forças terrestres, contudo, não especificaram os métodos da operação.
A verdade é que, com os iraquianos encurralados, sem nenhuma possibilidade de reação, começou a ofensiva com força total. O ataque brutal resultou na destruição de entre 1.800 a 2.700 carros, caminhões, ônibus e tanques, deixando os seus restos fumegantes espalhados ao longo de vários quilômetros da rodovia. O número exato das vítimas, cujos corpos foram carbonizados grotescamente, é desconhecido. As estimativas variam conforme as fontes, chegando a conclusões tão díspares quanto 300 a dezenas de milhares de mortos.
Quando a luz do dia permitiu ver a magnitude do massacre, as primeiras vozes de protesto se levantaram contra a operação. Alguns jornais falaram em carnificina, vários jornalistas e associações de direitos humanos acusaram os Estados Unidos de violarem a Convenção de Genebra, e que, portanto, deviam responder por crimes de guerra, uma vez que as vítimas eram civis e militares, no que parecia claramente uma rendição e uma batida em retirada.
Na manhã seguinte, poucas horas antes do cessar fogo, o fotógrafo Kenneth Jarecke voltava para o Kuwait, vindo do sul do Iraque. Na Rodovia da Morte, Jarecke observou um caminhão calcinado no meio da estrada, depois do ataque americano. Ele parou e registrou uma das imagens mais chocantes da guerra: um soldado iraquiano carbonizado dentro do veículo.
Diante da cena dantesca, Kenneth Jarecke justificou a fotografia, dizendo para os soldados que o escoltavam: "Se eu não tirar fotos como essa, pessoas como a minha mãe continuarão pensando que, o que acontece nas guerras, é o que elas veem nos filmes". Então, o fotógrafo se aproximou do caminhão calcinado e tirou a fotografia que você vê acima. É a brutalidade da guerra olhando para dentro das nossas almas. A fotografia, no primeiro momento, não foi publicada nos Estados Unidos. Os órgãos de imprensa daquele país a consideraram por demais explícita, alegando que a imagem poderia ferir as pessoas mais sensíveis.
"Somente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e mais desolação. A guerra é o inferno." (Gen. William T. Sherman)
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